sábado, 2 de agosto de 2014

Uma espécie de viés de sobrevivência

O João e o Pedro vão abrir uma nova empresa. O Francisco é um potencial investidor. Será que o Francisco deve investir?

A resposta óbvia, e de certa forma informada, será: ele deve primeiro analisar o plano de negócios verificar o best case scenario (melhor projecção) e o worst case scenario (pior projecção), conhecer bem o mercado,  os seus produtos e os da concorrência para poder tomar uma decisão informada.
Será a resposta óbvia a correcta? As escolas de gestão ensinam a fazer e a avaliar business plans (planos de negócio) e a conduzir estudos de viabilidade de projectos/empresas e produtos.
Mas serão essas técnicas capazes de garantir o sucesso de uma empresa? Ajudam muito, mas a resposta honesta é: não. Perceba-se que isto é óbvio, senão qualquer pessoa com uma licenciatura em gestão seria um empresário de sucesso.

The Son of Man de René Magritte

A forma como o nosso cérebro funciona proporciona uma ilusão sobre as nossas reais possibilidades. A inabilidade de perceber as reais hipóteses quando falamos de sucesso (ou sucesso próprio) é substancial. Até os mais pessimistas pensam desta forma. Não acredita?! Vejamos:
-Conhece uma amigo/a ou familiar que canta extraordinariamente bem? Sim, todos conhecemos alguém com uma voz extraordinária. Frequentemente pensamos: esta pessoa podia ser uma estrela. Será esta inferência correcta?! O que acontece é que: para onde quer que se "olhe" - na TV, nas revistas e nos anúncios e até na rádio - encontramos estrelas. O nosso cérebro percebe o sucesso de uma forma diferente do que se estivesse a observar o insucesso ou o número de tentativas.

Explicando o "fenómeno": Na escola, quando estudamos probabilidades, um dos exercícios básicos é determinar a probabilidade de se tirar uma bola preta num saco com 9 bolas brancas e uma bola preta. O que aconteceria, na prática, se só conseguisse ver a extracção de bolas pretas? Acabaria por achar que a probabilidade de sair uma bola preta é muito maior do que 1/10. Eventualmente, mesmo sendo pessimista, acharia que a probabilidade de sair uma bola preta muito superior à real. Desta mesma forma, voltando ao familiar/amigo com voz talentosa até um amigo pessimista pensará "para estrela internacional talvez não, mas para uns concertos locais ou até para coisas na rádio...". Este fenómeno designa-se por (um género de) viés de sobrevivência (não confundir com os viés de sobrevivência da epidemiologia). Para cada voz, escritor publicado, actor ou empresa de sucesso existe um número muito maior de insucessos.

Voltando ao caso da empresa do João e do Pedro. Será esta empresa a próxima Microsoft? Muito provavelmente não. Estudos de mercado indicam que a maior parte das empresas não sobrevive três anos e que as que sobrevivem não ultrapassam, regra-geral, os 10 funcionários. A conclusão correcta será que o Francisco não deve investir? Não. A conclusão correcta é que o Francisco deve ter noção da probabilidade de insucesso e juntamente com informação de qualidade - decidir se quer correr o risco.

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